sexta-feira, 22 de julho de 2011


No cargo há quatro anos e meio, o secretário geral do CONIC, Luiz Alberto Barbosa, também reverendo da Igreja Anglicana (IEAB), fala sobre o CONIC, ecumenismo, diálogo inter-religioso, e faz planejamento para os próximos anos. De um jeito bem simples, mas aprofundado, Luiz explica que “ainda há muito que se fazer em prol da causa ecumênica que, em muitas igrejas, engatinha”. Formado em direito e teologia, com mestrado em ciências da religião, Luiz é um entusiasta do trabalho que desenvolve à frente da Secretaria Geral e, por isso, é um dos defensores da causa da unidade. “Quero ver o CONIC ainda mais forte nos próximos anos, desempenhando papel fundamental junto às Igrejas para a promoção do diálogo entre os cristãos, e também entre os cristãos e as outras religiões”. Confira a íntegra da entrevista!

CONIC: Rev. Luiz, como você vê o desenvolvimento do ecumenismo no Brasil e o progresso do diálogo inter-religioso com religiões minoritárias?
O Brasil é um país continental, com uma grande diversidade étnica, cultural e religiosa. Pela nossa história de colonização, a cultura judaico-cristã acabou moldando muito do jeito de ser e pensar do brasileiro, o que faz com que muitos desconheçam a riqueza da diversidade presente no Brasil, principalmente no campo religioso. Existe um grande vazio de conhecimento, mesmo entre os cristãos das diferentes Igrejas. Esta falta de informação e conhecimento não é só por parte do povo, dos fieis, mas em grande parte dos líderes religiosos percebemos uma lacuna na formação, voltada para as teologias internas de cada denominação, que geralmente exclui e diminui a religião do próximo, que é diferente da sua. Neste contexto, o ecumenismo adquire importância fundamental, pois apenas através do diálogo e da convivência com o próximo é que aprenderemos a respeitar as diferenças e valorizar aquilo que temos em comum. Estar aberto ao outro, conhecer a sua cultura, seu modo de pensar e agir, essa é uma das premissas da atuação do próprio Cristo, que dialogava com todos, samaritanos, fariseus, mulheres, crianças, pobres e ricos.
O cristianismo, na sua origem, nunca foi uma religião excludente, e por isso mesmo ser cristão significa ser ecumênico. A divisão dos cristãos é um contra testemunho para o mundo e deturpa a mensagem de Jesus. Quando pensamos assim, percebemos o tanto que ainda tem que ser feito para que os valores do Reino sejam vividos plenamente neste mundo. Se o ecumenismo, o diálogo e a busca da unidade entre os cristãos é uma premissa, o diálogo com as outras religiões se torna imperativo. O cristianismo, em suas diversas matizes, é fruto do diálogo intenso ocorrido com diferentes povos e culturas. Particularmente, acho no mínimo engraçado alguns cristãos fundamentalistas, que exatamente por não conhecerem o caldeirão religioso-cultural no qual o cristianismo se formou, acabam se fechando ao diálogo com outras religiões, com medo de serem contaminados por heresias.

CONIC: O que pode ser feito por parte das igrejas-membro do CONIC para que outros cristãos, de fato, se engajem nas causas ecumênicas?
As Igrejas do CONIC, formadas hoje pela Igreja Católica Romana, pela Igreja Episcopal Anglicana, pela Igreja de Confissão Luterana no Brasil, pela Igreja Presbiteriana Unida e pela Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia deveriam investir mais na formação interna dos seus fieis e dos seus líderes, mostrando a riqueza que como cristãos carregamos, com todas as nossas tradições litúrgicas, musicais, teológicas. A formação é essencial. Ninguém ama aquilo que não conhece. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é um dos instrumentos que o CONIC oferece às Igrejas para ajudar nesta reflexão. Outro aspecto que as Igrejas poderiam aproveitar mais é no trabalho diaconal em comum, ou seja, se as Igrejas possuem alguns entraves nas questões teológicas, estas são superadas quando o objetivo é ajudar o próximo. Vivenciamos isto no ano passado com a terceira edição da Campanha da Fraternidade Ecumênica, em que as Igrejas unidas na solidariedade, apoiaram 229 projetos em todo o Brasil. Estes exemplos mostram que a união dos cristãos é possível. Não é necessário todos pensarem igual ou agirem de igual modo, isto não acontece nem nas famílias, mas no respeito e no diálogo podemos estar unidos. Creio que o exemplo de convivência pacífica e de abertura ao diálogo, com trabalho diaconal, são as melhores maneiras das Igrejas darem testemunho ao mundo. Quero ver o CONIC ainda mais forte nos próximos anos, desempenhando papel fundamental junto às Igrejas para a promoção do diálogo entre os cristãos, e também entre os cristãos e as outras religiões.

CONIC: Cresce o número de pessoas que apóiam o diálogo e a unidade dos cristãos. Como você avalia esse crescimento?
A mídia tem ajudado bastante a mostrarmos as ações conjuntas das Igrejas, principalmente nas questões sociais e na esfera governamental. Esta visibilidade das ações e programas desenvolvidos pelo CONIC faz com que muitas pessoas se sintam interessadas na causa ecumênica. Por outro lado, existe uma má compreensão por parte de alguns do que venha a ser ecumenismo, como se fosse o objetivo de todas as Igrejas se unirem, tornando-se apenas uma Igreja. Na realidade, existe apenas uma Igreja de Cristo, que se manifesta de diferentes maneiras. Nenhuma é melhor ou maior do que a outra, elas são apenas diferentes. O que o ecumenismo mostra é que, ao conhecermos os diferentes modos de ser Igreja, nos reconhecemos como cristãos, nos sentimos parte da mesma família, mesmo dentro da diversidade. Creio que o objetivo maior do ecumesnismo seja esse, a Unidade na Diversidade, e esse pode ser o atrativo para muitos que querem manter a sua identidade dentro de um grupo diverso. Ao mesmo tempo, percebo uma crise de identidade, em que a falta de informação faz com que determinados grupos religiosos acabem por se isolar. Para ser ecumênico é necessário ter a sua identidade religiosa sólida, bem fundada, o que permite o diálogo com o outro sem se sentir ameaçado. Como falei no início, com a maior divulgação pela mídia e também com uma formação sólida dentro de cada Igreja, mais e mais pessoas se sentirão confortáveis em abraçar a causa do diálogo e da unidade dos cristãos.

CONIC: Quais seus planos enquanto secretário geral do CONIC para os próximos anos?
O cargo de secretário geral é de confiança das Igrejas e da Diretoria do CONIC. Estamos iniciando uma nova fase na gestão do Conselho, com a nova Diretoria que tomou posse em março deste ano. Penso que o maior desafio, que já não é de agora, é a questão da sustentabilidade financeira das Igrejas e dos organismos ecumênicos, dentre eles o CONIC. Penso em trabalhar em conjunto com a Diretoria para conseguir os recursos necessários para a condução de todos os projetos e programas previstos em nosso plano operacional. Fazer com que o ecumenismo saia da esfera oficial, dos dirigentes das Igrejas, e chegue às bases ainda é um grande desafio. Em sua origem etimológica, ecumenismo significa Casa de Todos, acho que como secretário geral do CONIC este seja o meu maior objetivo, fazer com que todos se sintam em casa. A casa não é minha, a casa é nossa. Quando assumi como secretário em fevereiro de 2007, disse que o CONIC estava aberto para ser a casa de todos, e este continua sendo o meu plano fundamental: que muitas outras Igrejas e organizações ecumênicas se aproximem e percebam que o CONIC é a casa da unidade de todos nós.

Fonte: CVX Brasil

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